A restauração da mata ciliar na Reserva Extrativista de Jaci-Paraná representa uma esperança na busca da recuperação ambiental na Amazônia Legal. Em meio a décadas de degradação e desmatamento, a iniciativa conjunta entre a Prefeitura de Porto Velho e a Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR) apresenta uma nova abordagem para enfrentar velhos desafios. A magnitude do projeto, embora modesta em números — 4 mil mudas —, carrega um simbolismo poderoso. Representa a possibilidade real de conciliação entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico sustentável, um equilíbrio há muito perseguido e raramente alcançado em nossa região.
O modelo proposto merece atenção especial por sua estrutura participativa. Ao envolver diretamente os extrativistas no processo de replantio e manutenção, o projeto reconhece e valoriza o conhecimento tradicional dessas comunidades. São elas, afinal, as verdadeiras guardiãs da floresta, detentoras de um saber ancestral sobre o manejo sustentável dos recursos naturais. Entretanto, é preciso cautela. Duas décadas de degradação ambiental não serão revertidas da noite para o dia. O plantio das mudas é apenas o primeiro passo de uma longa jornada que exigirá comprometimento contínuo, monitoramento constante e, principalmente, recursos permanentes para sua manutenção.
A escolha estratégica de espécies como a seringueira demonstra uma visão holística do problema. Não se trata apenas de recuperar a cobertura vegetal, mas de reconstruir todo um ecossistema que sustenta tanto a biodiversidade quanto a economia local. A revitalização da cadeia produtiva da borracha pode ser o catalisador necessário para garantir a sustentabilidade econômica do projeto.
O componente educacional da iniciativa, com a previsão de capacitação técnica para as comunidades, é outro aspecto fundamental. A união entre conhecimento científico e sabedoria tradicional pode criar um modelo único de gestão ambiental, potencialmente replicável em outras áreas degradadas da Amazônia.
Contudo, o sucesso desta empreitada dependerá da continuidade das políticas públicas e do compromisso efetivo de todos os envolvidos. A história está repleta de projetos bem-intencionados que sucumbiram à descontinuidade administrativa ou à falta de recursos. O momento exige vigilância e participação ativa da sociedade civil. O projeto pode representar um novo paradigma na gestão ambiental da região, desde que mantido o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento sustentável. A recuperação da Resex Jaci-Paraná não é apenas uma questão ambiental, mas um compromisso com o futuro das próximas gerações.
Diário da Amazônia