A privatização da BR-364 em Rondônia representa um marco importante na modernização da infraestrutura viária do estado. No entanto, a decisão do Governo Federal de transferir a rodovia à iniciativa privada suscita debates fundamentais sobre seus impactos econômicos, sociais e logísticos. Enquanto a medida promete melhorias significativas, como duplicação de trechos e ampliação da segurança viária, ela também traz desafios que não podem ser ignorados.
O principal ponto de tensão reside na instalação de sete praças de pedágio ao longo dos 721,07 quilômetros da rodovia. Para o setor produtivo, que depende intensamente do transporte rodoviário, essa medida pode elevar os custos operacionais, especialmente em um estado cuja economia é impulsionada pelo agronegócio. É necessário avaliar cuidadosamente como essas tarifas influenciarão o preço final dos produtos e serviços, bem como sua competitividade no mercado nacional e internacional.
Além disso, experiências anteriores em outras regiões demonstram que obras de duplicação podem resultar em acessos inadequados à áreas industriais, comprometendo a mobilidade de caminhões e funcionários. Esse cenário já começa a ser observado em municípios como Ji-Paraná, onde normas federais sobre faixas de domínio público têm gerado entraves para a emissão de alvarás e a instalação de infraestrutura elétrica. Sem um planejamento adequado, esses problemas podem se multiplicar, afetando negativamente o desenvolvimento econômico local.
Outro aspecto crítico é a falta de transparência nas informações disponibilizadas às entidades empresariais e à população. A ausência de dados detalhados sobre localizações das praças de pedágio e cronogramas de execução deobras dificulta o planejamento estratégico das empresas. Para mitigar esse problema, é essencial que as decisões sejam tomadas de forma participativa, com a inclusão das associações comerciais e industriais nas discussões.
Nesse contexto, a posição da Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Rondônia (Facer) merece destaque. A entidade tem sido incisiva em suas cobranças por maior transparência e engajamento proativo nas decisões. Seu papel é fundamental para garantir que as especificidades regionais sejam consideradas e que os interesses do setor produtivo sejam preservados. Da mesma forma, as associações comerciais municipais, como a Acijip e a Acia, têm demonstrado liderança ao debater os reflexos da privatização em seus territórios.
Por outro lado, é inegável que a concessão da BR-364 à iniciativa privada traz benefícios potenciais. A modernização da rodovia pode reduzir acidentes, melhorar o conforto dos usuários e atrair novos investimentos para a região. No entanto, esses ganhos só serão plenamente alcançados se houver um equilíbrio entre os interesses públicos e privados. Isso inclui garantir que os pedágios sejam cobrados apenas após a conclusão das melhorias previstas, evitando que os usuários paguem por uma infraestrutura ainda inacabada.
Diário da Amazônia