O avanço das queimadas ilegais tornou-se um dos maiores desafios ambientais e sociais enfrentados por Porto Velho. A aprovação de uma legislação que prevê multas milionárias representa uma tentativa de frear um fenômeno que, ano após ano, compromete a qualidade de vida da população e impõe danos significativos ao meio ambiente.
A realidade que se impõe à capital exige equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Por um lado, o fogo é historicamente utilizado como instrumento de manejo em áreas rurais, prática que, quando feita de forma controlada e autorizada, pode atender a necessidades agrícolas específicas. Por outro, o uso indiscriminado e sem acompanhamento técnico transforma-se em ameaça coletiva, com repercussões que extrapolam fronteiras municipais.
A escalada dos índices de poluição registrados em 2024 não apenas colocou Porto Velho em evidência nacional, como também expôs a vulnerabilidade de sistemas públicos de saúde, pressionados por aumento de atendimentos relacionados a doenças respiratórias. Tal contexto evidencia que o impacto das queimadas não se restringe ao meio ambiente: alcança diretamente a vida urbana, a produtividade econômica e o bem-estar social.
A adoção de penalidades mais rigorosas precisa ser compreendida como parte de um conjunto de medidas mais amplo. Não basta apenas instituir multas de alto valor. É essencial garantir mecanismos eficientes de fiscalização, estabelecer programas de conscientização comunitária e investir em alternativas de manejo sustentável. Somente a integração entre punição, educação e incentivo pode construir resultados duradouros.
Outro aspecto que merece reflexão é a necessidade de articulação entre diferentes esferas de governo. A fumaça que cobre Porto Velho não respeita limites administrativos. O problema é regional, e soluções eficazes dependem de cooperação interestadual e federal, além de parcerias com instituições de pesquisa e monitoramento ambiental.
Cabe destacar ainda o papel da sociedade civil. O combate às queimadas não deve ser entendido como responsabilidade exclusiva do poder público. Comunidades, produtores e cidadãos em geral precisam assumir compromisso de corresponsabilidade. A denúncia de práticas ilegais, o apoio a projetos de reflorestamento e a valorização de métodos alternativos de produção fazem parte da construção de um futuro menos vulnerável.
A lei sancionada sinaliza que Porto Velho não pode permanecer refém do ciclo anual de fumaça. Ao endurecer punições, a cidade envia mensagem clara de que a degradação ambiental não pode ser naturalizada. Contudo, a eficácia da medida será medida não apenas pelo valor das multas aplicadas, mas sobretudo pela capacidade de mobilizar a sociedade em torno de uma mudança de cultura.
Diário da Amazônia