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Violência agrária: a guerra não declarada que envergonha o Brasil

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Foto: Reprodução

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O Brasil carrega o paradoxo de ser um país com dimensões continentais e vastas terras, mas que ainda não conseguiu solucionar seus conflitos fundiários. Enquanto proclamamos internacionalmente nosso caráter pacífico, uma guerra silenciosa acontece no campo brasileiro, ceifando vidas em proporções alarmantes.

A disputa por terras representa hoje um dos maiores flagelos nacionais, especialmente na região amazônica. O cerne deste problema reside na inaceitável morosidade do poder público em regularizar propriedades, algumas distribuídas pelo próprio Estado há mais de décadas.

Quando analisamos detalhadamente este cenário, enxergamos um ciclo perverso: famílias ocupam terras e desenvolvem comunidades inteiras, com infraestrutura e organização social. Contudo, a ausência de documentação legal impede o acesso ao crédito, inviabiliza o crescimento econômico e perpetua uma condição de estagnação que, inevitavelmente, culmina em tensão e violência.

O trágico episódio ocorrido em 1995 em Corumbiara exemplifica a gravidade desta questão. Naquela ocasião, 15 pessoas perderam suas vidas em um confronto que evidenciou a dimensão do problema. Quase três décadas depois, centenas de famílias daquela mesma região permanecem em situação de embargo, sem acesso a financiamentos ou benefícios que poderiam promover seu desenvolvimento.

Quando comparamos os números da violência no campo brasileiro com conflitos internacionais amplamente noticiados, como as guerras na Ucrânia, no leste europeu ou em Gaza, no Oriente Médio, encontramos uma realidade perturbadora: nossos conflitos agrários podem ser ainda mais letais. Somados aos homicídios urbanos e acidentes de trânsito, o Brasil perde anualmente mais de 100 mil cidadãos para diferentes formas de violência. E é preciso reconhecer que, sem um compromisso firme e prioritário do governo federal, essa situação persistirá. A insegurança jurídica que aflige milhares de produtores rurais não representa apenas um entrave burocrático, mas uma ameaça constante à paz social e ao desenvolvimento sustentável do país.

A questão fundiária brasileira exige uma ação coordenada que inclua não apenas a titulação das terras, mas um programa abrangente de desenvolvimento rural que ofereça condições dignas de permanência no campo, com acesso a infraestrutura, serviços públicos e possibilidades de crescimento econômico. O momento é oportuno para que a reforma agrária volte à agenda prioritária nacional, com ações concretas que possam, finalmente, pacificar o campo brasileiro e encerrar esse ciclo de violência que envergonha nossa história e compromete nosso futuro como nação verdadeiramente pacífica.


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