Foto: Magda Oliveira/G1
A decisão judicial que invalidou uma resolução aprovada de forma irregular na Câmara Municipal de Pimenta Bueno é, antes de tudo, um marco significativo no combate à arbitrariedade e na defesa do Estado Democrático de Direito.
A sentença não apenas corrigiu um desvio processual grave, mas também reforçou princípios basilares da democracia, como transparência, legalidade e ampla deliberação parlamentar. No entanto, para além da vitória jurídica alcançada pelos vereadores autores da ação, o caso revela questões mais profundas sobre o funcionamento das instituições legislativas locais e os desafios enfrentados para garantir sua legitimidade perante a sociedade.
O cerne do problema está na violação sistemática das normas regimentais e constitucionais, que deveriam ser a bússola orientadora de qualquer atuação legislativa. A convocação irregular de sessão extraordinária, a ausência de prazos mínimos para análise de propostas e a negativa arbitrária ao direito de vista dos vereadores são exemplos claros de posturas que comprometem a isonomia entre os representantes eleitos e, por consequência, a confiança pública nas decisões tomadas. Essas práticas, infelizmente, ainda persistem em diversas esferas do poder, alimentando um ciclo de descrédito nas instituições.
Nesse contexto, a intervenção do Judiciário foi necessária e justificada. Não se trata de uma intromissão indevida, como pode argumentar quem defende a autonomia do Legislativo, mas sim de um freio indispensável contra abusos que ferem frontalmente os princípios democráticos. A juíza responsável pela decisão acertadamente destacou que o papel do Judiciário, nesses casos, é assegurar que os atos públicos sejam pautados pela legalidade e pela moralidade, evitando que decisões "a toque de caixa" prevaleçam sobre o interesse coletivo.
Por outro lado, é fundamental reconhecer que episódios como esse expõem fragilidades estruturais que vão além de eventuais má-fé ou negligência individual. Muitas câmaras municipais enfrentam desafios relacionados à falta de recursos humanos qualificados, à ausência de mecanismos eficazes de controle interno e, sobretudo, à pressão política exercida por interesses externos. Esses fatores contribuem para que práticas inadequadas se perpetuem, mesmo diante das evidentes consequências negativas para a imagem das instituições.
Portanto, a decisão judicial deve ser vista não como um ponto final, mas como um chamado à reflexão e à mudança. Para a nova legislatura, cabe a responsabilidade de rever procedimentos internos e implementar medidas que promovam maior transparência e participação. Isso inclui, por exemplo, a adoção de sistemas digitais que facilitem o acesso às informações por parte dos vereadores e da população, a realização de capacitações regulares sobre ética e normas regimentais e o estabelecimento de canais de diálogo com a sociedade civil para debater projetos de relevância pública. Além disso, é imprescindível que os próprios vereadores assumam um compromisso renovado com a integridade e a lisura em suas funções.
Diário da Amazônia